quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

História de Vida de Inácio de Loyola Gomes Bueno



Nascimento: 01/05/1926, Passos, Minas Gerais
  
01/02/1943 - Ingressa na Companhia de Jesus.
31/01/1964 - È desligado da Companhia de Jesus.
1963 - Torna-se padre diocesano, incardinando-se na Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, e assumindo a função de dirigente do Círculo Operário de Volta Redonda.
07/04/1964 - Apresenta-se à prisão em solidariedade a Lainor Ferreira, Presidente do Sindicato de Trabalhadores na Construção Civil, de Volta Redonda, por lutar energicamente por uma sociedade justa e democrática, por ter compromisso com os interesses populares por sonhar com um Brasil livre e democrático.
13/06/1964 - É impedido de exercer suas funções sacerdotais na Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda pelo General Octacílio Terra Ururahy, em carta intimação dirigida ao Bispo D. Altivo Pacheco Ribeiro: “O objetivo é impedir que Pe. Bueno retorne a exercer suas atividades político sociais na Diocese de Volta Redonda, área sensível à segurança militar”.
19/06/1964 - O General Octacílio Terra Ururahy, em “Solução de Sindicância”, exigiu de D. Altivo Pacheco Ribeiro, bispo diocesano de Piraí-Volta Redonda, a adoção de medidas que mantivessem afastado o Pe. Inácio Bueno das suas atividades nas regiões de Volta Redonda, Barra Mansa, Barra do Piraí, Ponte Coberta e Ribeirão das Lages. Na tentativa de encontrar espaço para trabalhar na Ação Católica, junto dos leigos da Diocese e de outros sacerdotes, Pe. Bueno busca uma Igreja aberta, evangélica, conforme o espírito do Concílio Vaticano II, num pioneirismo entusiasta e forte. Entretanto, novamente é calado por forças conservadoras e denunciado pelo Prefeito de Volta Redonda, o que dificulta seu retorno à Diocese.
11/09/1964 - Já em Barra do Piraí, escreve a D. Altivo expressando a frustração de ver interrompido seu trabalho junto à Equipe do Plano de Emergência, suspenso sumariamente pela Diocese.
02/08/1965 - D. Altivo e o Conselho Diocesano determinaram que Pe. Bueno deixe suas funções de pároco num prazo de trinta dias e abandone a Diocese, sob pena de suspensão de Ordem. Na tentativa de continuar contribuindo com seu trabalho na Igreja, Aceita pequenas paróquias como Quatis, Porto Real, Falcão, S. Joaquim, conforme carta ao bispo que tomou posse na diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda. Em outras cartas, busca a coerência entre o que dizia e o que fazia, como única forma de não perder o rumo. Neste desafio da vida em prol da verdade, da justiça e do respeito ao ser humano sacrifica sua saúde, tendo sido submetido a duas cirurgias de estômago em decorrência de úlceras hemorrágicas. Sem apoio da Igreja, afastado de suas funções e perseguido pelo Estado, só tem uma saída: partir em exílio forçado.
1967 - Ajudado por D. Waldyr Calheiros de Novaes, em 1967 transfere-se para Lille, na França, onde permanece por oito anos. Durante este tempo sombrio não lhe faltam dificuldades de toda espécie: inserir-se numa Igreja fechada em Lille, incerteza em relação ao futuro, medo e insegurança de retornar ao Brasil em plena ditadura. Na França, tem a possibilidade de fazer os Cursos de Sociologia e Psicanálise. Durante o Curso de Sociologia, por meio de uma bolsa, vai à Tanzânia (África) para ver de perto o Sistema de Educação daquele país voltado para a população carente e marginalizada. Ingressa no Curso de Psicanálise existencialista em Paris e participou de grupos de pesquisa e estudo de Dasein Análise e Análise Didática.
20/01/1975 - Volta ao Brasil, com a ajuda de empréstimo de D. Waldyr, desembarcando em São Paulo. onde permanece, sofrendo pressão de todos os lados: sem trabalho pastoral, sem emprego, sem dinheiro, sem perspectivas futuras. Nessa cidade, começa uma trajetória de sobrevivência, sujeitando-se ao salário mínimo, que o obriga a viver em precárias condições financeiras. Nessa ocasião, escreve a D. Waldyr: “Todos os Padres, Bispos e Papas deveriam passar pela experiência do trabalhador, condição da maior parte da humanidade”. Ainda em 1975, em correspondência com amigos, tem cartas censuradas. Com medo, escreve a D. Waldyr por meio de outra pessoa. Com a saúde debilitada, começa a queixar-se de completa exaustão. Ainda assim tenta retornar ao ministério sacerdotal, pedindo a D. Waldyr que o apresentasse ao D. Evaristo Arns, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo). Na carta a D. Waldyr, dizia sentir falta do ministério, do trabalho pastoral: “Não sei o que será de mim no futuro, mas penso que é bem possível que eu reassuma a vida eclesiástica totalmente. Vejo-me numa encruzilhada. Espero sair dela”.
Do labirinto se sai por cima. Aqui a Igreja perdeu um sacerdote humano, um cristão respeitoso pela vida humana e um cidadão idealista. Fica a pergunta: o que fez o Estado pelos cidadãos brasileiros vitimados pela repressão da ditadura militar?
Inácio de Loyola Gomes Bueno, aos 38 anos, em plena maturidade produtiva, foi afastado do ministério sacerdotal, ceifaram-lhe os ideais de luta pelos oprimidos, pela democracia, cortaram-lhe em carne viva, quiseram tirar sua esperança, adoeceram-lhe o corpo, dividiram-lhe o espírito. Mas este homem incansável não se deixou render. Teve de reconstruir sua vida palmo a palmo, sem deixar nunca o compromisso assumido com a vida humana. Foi educador, psicanalista, mestre de muitos, esposo e companheiro e pai de dois filhos.
1980 - Casa-se com Angela Maria Bicalho Antunes. Desse casamento nascem dois filhos: Marcelo Antunes Bueno e Sara Antunes Bueno.
Nunca deixou sua militância política em favor dos menos favorecidos; era um crítico voraz de qualquer regime repressor e da mídia enganadora e destrutiva. Semanalmente escrevia para jornalistas, elogiando-os, criticando-os ou sugerindo-lhes novas formas de ver o mundo e o homem. Solícito, ajudava a todos que cruzavam seu caminho. Para ele o Ser sempre esteve acima do Ter.
Em 1995, aos 69 anos, aposenta-se com menos de dois salários mínimos, sem nunca deixou a psicanálise e, mesmo doente, continua a atender as pessoas que o procuravam, e deste modo procedeu até um mês antes de sua morte.
Em 2000 sofre um AVC, quando teve início uma jornada de sete anos marcada por várias doenças: diabetes, hepatite, mal de Parkinson. Mesmo doente, escreveu uma pequena reflexão sobre a Queda das Torres Gêmeas e o significado da espécie humana, em 2001.
Lutou contra as doenças com a mesma coragem, otimismo e tolerância que sempre marcaram sua personalidade, assim como enfrentou tantos desafios de sua vida.
O Brasil tem uma dívida com este homem! Digno brasileiro, cidadão de vanguarda, educador por natureza! E o o Estado precisa repará-lo, revendo as conseqüências de seus atos, que atingiram a muitos e potencialmente a este homem, que só quis a justiça e a igualdade entre os irmãos.
Em 29/06/2007 ele nos deixou, mas sua história comovente nos orgulha por termos tido o privilégio de conhecê-lo e de conviver com ele os seus bons e difíceis dias.

Inácio de Loyola Gomes Bueno: um homem apaixonado pelo povo brasileiro e pela humanidade.

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