Nascimento: 01/05/1926, Passos, Minas Gerais
01/02/1943 - Ingressa na Companhia de Jesus.
31/01/1964 - È desligado da Companhia de Jesus.
1963 - Torna-se padre diocesano, incardinando-se na Diocese
de Barra do Piraí-Volta Redonda, e assumindo a função de dirigente do Círculo
Operário de Volta Redonda.
07/04/1964 - Apresenta-se à prisão em solidariedade a Lainor
Ferreira, Presidente do Sindicato de Trabalhadores na Construção Civil, de
Volta Redonda, por lutar energicamente por uma sociedade justa e democrática,
por ter compromisso com os interesses populares por sonhar com um Brasil livre
e democrático.
13/06/1964 - É impedido de exercer suas funções sacerdotais
na Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda pelo General Octacílio Terra
Ururahy, em carta intimação dirigida ao Bispo D. Altivo Pacheco Ribeiro: “O
objetivo é impedir que Pe. Bueno retorne a exercer suas atividades político
sociais na Diocese de Volta Redonda, área sensível à segurança militar”.
19/06/1964 - O General Octacílio Terra Ururahy, em “Solução
de Sindicância”, exigiu de D. Altivo Pacheco Ribeiro, bispo diocesano de
Piraí-Volta Redonda, a adoção de medidas que mantivessem afastado o Pe. Inácio
Bueno das suas atividades nas regiões de Volta Redonda, Barra Mansa, Barra do
Piraí, Ponte Coberta e Ribeirão das Lages. Na tentativa de encontrar espaço
para trabalhar na Ação Católica, junto dos leigos da Diocese e de outros
sacerdotes, Pe. Bueno busca uma Igreja aberta, evangélica, conforme o espírito
do Concílio Vaticano II, num pioneirismo entusiasta e forte. Entretanto,
novamente é calado por forças conservadoras e denunciado pelo Prefeito de Volta
Redonda, o que dificulta seu retorno à Diocese.
11/09/1964 - Já em Barra do Piraí, escreve a D. Altivo
expressando a frustração de ver interrompido seu trabalho junto à Equipe do
Plano de Emergência, suspenso sumariamente pela Diocese.
02/08/1965 - D. Altivo e o Conselho Diocesano determinaram
que Pe. Bueno deixe suas funções de pároco num prazo de trinta dias e abandone
a Diocese, sob pena de suspensão de Ordem. Na tentativa de continuar
contribuindo com seu trabalho na Igreja, Aceita pequenas paróquias como Quatis,
Porto Real, Falcão, S. Joaquim, conforme carta ao bispo que tomou posse na
diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda. Em outras cartas, busca a coerência
entre o que dizia e o que fazia, como única forma de não perder o rumo. Neste
desafio da vida em prol da verdade, da justiça e do respeito ao ser humano
sacrifica sua saúde, tendo sido submetido a duas cirurgias de estômago em
decorrência de úlceras hemorrágicas. Sem apoio da Igreja, afastado de suas
funções e perseguido pelo Estado, só tem uma saída: partir em exílio forçado.
1967 - Ajudado por D. Waldyr Calheiros de Novaes, em 1967
transfere-se para Lille, na França, onde permanece por oito anos. Durante este
tempo sombrio não lhe faltam dificuldades de toda espécie: inserir-se numa
Igreja fechada em Lille, incerteza em relação ao futuro, medo e insegurança de
retornar ao Brasil em plena ditadura. Na França, tem a possibilidade de fazer
os Cursos de Sociologia e Psicanálise. Durante o Curso de Sociologia, por meio
de uma bolsa, vai à Tanzânia (África) para ver de perto o Sistema de Educação
daquele país voltado para a população carente e marginalizada. Ingressa no
Curso de Psicanálise existencialista em Paris e participou de grupos de
pesquisa e estudo de Dasein Análise e Análise Didática.
20/01/1975 - Volta ao Brasil, com a ajuda de empréstimo de
D. Waldyr, desembarcando em
São Paulo. onde permanece, sofrendo pressão de todos os
lados: sem trabalho pastoral, sem emprego, sem dinheiro, sem perspectivas
futuras. Nessa cidade, começa uma trajetória de sobrevivência, sujeitando-se ao
salário mínimo, que o obriga a viver em precárias condições financeiras. Nessa
ocasião, escreve a D. Waldyr: “Todos os Padres, Bispos e Papas deveriam passar
pela experiência do trabalhador, condição da maior parte da humanidade”. Ainda
em 1975, em correspondência com amigos, tem cartas censuradas. Com medo,
escreve a D. Waldyr por meio de outra pessoa. Com a saúde debilitada, começa a
queixar-se de completa exaustão. Ainda assim tenta retornar ao ministério
sacerdotal, pedindo a D. Waldyr que o apresentasse ao D. Evaristo Arns,
arcebispo da Arquidiocese de São Paulo). Na carta a D. Waldyr, dizia sentir
falta do ministério, do trabalho pastoral: “Não sei o que será de mim no
futuro, mas penso que é bem possível que eu reassuma a vida eclesiástica
totalmente. Vejo-me numa encruzilhada. Espero sair dela”.
Do labirinto se sai por cima. Aqui a Igreja perdeu um
sacerdote humano, um cristão respeitoso pela vida humana e um cidadão
idealista. Fica a pergunta: o que fez o Estado pelos cidadãos brasileiros
vitimados pela repressão da ditadura militar?
Inácio de Loyola Gomes Bueno, aos 38 anos, em plena
maturidade produtiva, foi afastado do ministério sacerdotal, ceifaram-lhe os
ideais de luta pelos oprimidos, pela democracia, cortaram-lhe em carne viva,
quiseram tirar sua esperança, adoeceram-lhe o corpo, dividiram-lhe o espírito.
Mas este homem incansável não se deixou render. Teve de reconstruir sua vida
palmo a palmo, sem deixar nunca o compromisso assumido com a vida humana. Foi
educador, psicanalista, mestre de muitos, esposo e companheiro e pai de dois
filhos.
1980 - Casa-se com Angela Maria Bicalho Antunes. Desse
casamento nascem dois filhos: Marcelo Antunes Bueno e Sara Antunes Bueno.
Nunca deixou sua militância política em favor dos menos
favorecidos; era um crítico voraz de qualquer regime repressor e da mídia
enganadora e destrutiva. Semanalmente escrevia para jornalistas, elogiando-os,
criticando-os ou sugerindo-lhes novas formas de ver o mundo e o homem.
Solícito, ajudava a todos que cruzavam seu caminho. Para ele o Ser sempre
esteve acima do Ter.
Em 1995, aos 69 anos, aposenta-se com menos de dois salários
mínimos, sem nunca deixou a psicanálise e, mesmo doente, continua a atender as
pessoas que o procuravam, e deste modo procedeu até um mês antes de sua morte.
Em 2000 sofre um AVC, quando teve início uma jornada de sete
anos marcada por várias doenças: diabetes, hepatite, mal de Parkinson. Mesmo
doente, escreveu uma pequena reflexão sobre a Queda das Torres Gêmeas e o
significado da espécie humana, em 2001.
Lutou contra as doenças com a mesma coragem, otimismo e
tolerância que sempre marcaram sua personalidade, assim como enfrentou tantos
desafios de sua vida.
O Brasil tem uma dívida com este homem! Digno brasileiro,
cidadão de vanguarda, educador por natureza! E o o Estado precisa repará-lo,
revendo as conseqüências de seus atos, que atingiram a muitos e potencialmente
a este homem, que só quis a justiça e a igualdade entre os irmãos.
Em 29/06/2007 ele nos deixou, mas sua história comovente nos
orgulha por termos tido o privilégio de conhecê-lo e de conviver com ele os
seus bons e difíceis dias.
Inácio de Loyola Gomes Bueno: um homem apaixonado pelo povo
brasileiro e pela humanidade.